terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Argo - 2012

23/02/2013 - 11
Nota: 8.5 / 8.0 (IMDB)
Formato: HD

Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio, Joshuah Bearman
Elenco: Ben Affleck (Tony Mendez), Bryan Cranston (Jack O'Donnell), Alan Arkin (Lester Siegel), John Goodman (John Chambers), Tate Donovan (Bob Anders), Clea DuVall (Cora Lijek), Christopher Denham (Mark Lijek), Scoot McNairy (Joe Stafford), Kerry Bishé (Kathy Stafford), Rory Cochrane (Lee Schatz), Victor Garber (Ken Taylor), Kyle Chandler (Hamilton Jordan), Chris Messina (Malinov), Željko Ivanek (Robert Pender), Titus Welliver (Jon Bates), Bob Gunton (Cyrus Vance), Philip Baker Hall (Warren Christopher), Richard Kind (Max Klein), Michael Parks (Jack Kirby), Tom Lenk (Rodd), Christopher Stanley (Tom Ahern), Taylor Schilling (Christine Mendez), Sheila Vand (Sahar), Devansh Mehta (Matt Sanders), Omid Abtahi (Reza), Karina Logue (Elizabeth Ann Swift), Adrienne Barbeau (Nina)

Crítica:
Ben Affleck está entrando para lista dos diretores mais promissores de Hollywood. Talvez ele seja um dos primeiros diretores que acompanharei a carreira desde o início. É interessante ver que seu dom para dirigir filmes, está fazendo melhorar suas atuações, pois como ator, ainda precisa crescer muito. Sua filmografia como diretor, tem apenas três filmes, mas todos de alto nível, por enquanto, estão impecáveis: Medo da Verdade (Gone Baby Gone) – 2007, Atração Perigosa (The Town) – 2010 e este.

Argo é um filme político, de espionagem, e bem estadunidense, com todo patriotismo que eles gostam, apesar das várias críticas nas entrelinhas. Além de dirigir, Affleck assinou o roteiro e ainda atuou como personagem principal. O roteiro foi baseado no livro Master of Disguise: My Secret Life in the CIA de Antonio J. Mendez, ex-agente da CIA, que Affleck interpreta; e no artigo How the CIA Used a Fake Sci-Fi Flick to Rescue Americans From Tehran escrito por Joshuah Bearman, da revista Wired, após a CIA retirar a operação Argo dos arquivos confidenciais.


A história de Argo é bem simples, seu grande mérito esta na tentativa, até onde sei, bem sucedida. Fez-se fiel aos acontecimentos reais. Os elogios começam com o figurino, a retratação das personagens e as locações. Tudo se remete aos anos 70: os cabelos, as músicas, os mobiliários das casas e escritórios, os carros, até a cor mais pálida das imagens.

Também é de se elogiar, o suspense e tensão passados com uma realidade impressionante nas interpretações. Todos os atores conseguiram nos mostrar o quão a situação era complicada, que a morte estava bem próxima. A parte final nos deixa completamente atentos e tensos, qualquer movimento em falso pode fazer o plano dar errado. É uma sensação inexplicável, o coração acelera, e quando há o desfecho da história, percebemos que estamos dentro do filme, sentindo o que as personagens estão sentindo.

Pra mim, foram essas as duas principais críticas positivas que fizerem o filme ganhar tantos prêmios, inclusive o Oscar 2013 na categoria melhor filme, pois como a história foi real, muitos sabiam seu final, e ainda assim sentimos o drama real das personagens.


[SPOILER...] O ano é 1979, em plena crise entre Irã e EUA. O então xá, Mohammad Reza Pahlavi, está refugiado nos EUA para tratamento de um câncer, mas os militantes islâmicos querem sua extradição a qualquer custo. Ele é acusado de vários crimes, sua volta é aguardada para julgamento e possível enforcamento. Os EUA se recusam a extraditá-lo, iniciando o conflito, que se culmina em protestos e invasão da embaixada estadunidense. Cinquenta e quatro funcionários são feitos reféns, mas seis deles conseguem fugir, sem que ninguém os perceba, assim, se refugiam na casa do embaixador canadense.

Com isso, o serviço secreto estadunidense, a CIA, precisa correr para resgatá-los, pois será questão de tempo para os agentes iranianos descobrirem que alguns funcionários conseguiram escapar. Várias reuniões com a inteligência da CIA são realizadas, os dias vão pasando e nenhum ideia para resgate é vista como possível, até que o agente secreto Mendez, tem "a melhor ideia ruim": criar um filme falso, com uma equipe de produção que visitaria o Irã em busca de locações para o filme. Como não havia outra ideia, a CIA aceitou. Para colocar seu plano em ação, Mendez procurou o premiado maqueador, John Chambers (John Goodman), vencedor do Oscar por Planeta dos Macacos (Planet of the Apes) - 1968 e o produtor Lester Siegel (Alan Arkin). A intenção era simular a produção o mais real possível. Argo seria uma ficção científica no estilo Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança (Star Wars: Episode IV - A New Hope) - 1977, seria mais fácil acreditar em um gênero que estava em alta e era sucesso na época. Tudo foi realizada de forma que fosse um filme real, a imprensa foi incluída, coletivas foram realizadas, posters, sinópse, tudo foi criado. O filme estava em produção.


Com todos acreditando na produção do filme, Mendez partiu para o Irã, com passaportes falsos e uma nova personalidade para cada um dos seis refugiados. O resgate envolveria um treinamento rígido de todos eles, para decorar e convencer sobre suas novas identidades. A partir disso, a trama foca entre os bastidores da CIA e a execução da missão com Mendez e os seis refugiados. Até o desfecho final, melhor parte do filme, a fuga. [FIM SPOILER

As atuações foram excelentes, pois nos convence, do início ao fim, da tensão e do perigo que o seis estavam passando. A atuação de Ben Affleck foi boa, o personagem não exigiu tanto.

Argo é um dos melhores filmes de espionagem que assisti. Mereceu estar na lista dos indicados a melhor filme no Oscar 2013, mas ainda não posso opinar se mereceu vencer, preciso assistir aos outros candidatos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Poder do Soul (Soul Power) - 2008

15/02/2013 - 10
Nota: 8.0 / 6.7 (IMDB)
Formato: Blu–Ray

Direção: Jeffrey Levy-Hinte
Elenco: Muhammad Ali, James Brown, Celia Cruz, BB King, Don King, Miriam Makeba, The Spinners, Bill Withers

Crítica:

O Poder do Soul é um documentário filmado em 1974 sobre o festival musical realizado no antigo Zaire, hoje, República do Congo. A ideia do festival era reunir, em algum país da África, os maiores artistas africanos junto com artistas afro-americanos de grande sucesso da época. Os realizadores procuravam investidores para o festival, e chegaram a Don King, famoso empresário de boxe, que estava promovendo a luta que valeria o título mundial de boxe. A ideia dos realizadores era  unificar a luta do com o festival de música. King gostou da ideia, e com sua influência conseguiu um financiador para o evento musical. A grande luta estava marcada para o Zaire, e reuniria os dois maiores boxeadores da época: Muhammad Ali e George Foreman. Ali se encontrava no auge da fama, e usava isso para seus protestos contra a discriminação racial, política estadunidense e mundial.

Nesse contexto o documentário foi realizado, mas não foi finalizado, pois o investidor não entrou mais em contato e o financiamento foi cortado. Depois os realizadores ficaram sabendo que o investidor havia morrido. Somente na década de 2000 eles arrumaram financiadores para finalizarem o filme.

O filme mostra todos os bastidores para preparação do evento. Desde a montagem do palco, até o show em si. As primeiras negociações para o local físico do espetáculo e contratação dos artistas, até o passo a passo para montagem do palco. A luta fica apenas como pando de fundo, mas algumas há entrevistas interessantes com Ali. Em uma deles, ele fala como os EUA estão atrasados nos direitos humanos, com muito racismo e discriminação racial, além do capitalismo ter tomado conta do país. E na África as coisas são bem mais naturais, as pessoas ainda se preocupam com as pessoas.


O artista mais importante da época era James Brown, a todo o momento percebemos o quanto as pessoas o idolatravam, e o quanto ele era solicitado para entrevistas e depoimentos sobre a importância do evento. Outros importantes artistas foram chamados, mas na época ainda não eram tão famosos, um deles é B.B. King. É até estranho vê-lo novo, andando e fazendo seu show em pé, pra mim foi uma das partes mais interessantes do filme.

Um dos pontos altos do documentário são a reunião e a viagem dos artistas afro-americanos, para a África. Eles se reuniram no que parecia um hotel, para uma festa com todos os envolvidos, vários discursos são feitos, e no outro dia, partem para a viagem à África. Dentro do avião a festa continua com muita bebida e música. Ao chegar ao Zaire, mais festa, foram recepcionados no aeroporto por Don King, e levados ao hotel, onde aconteceria a recepção festiva. É ali que Brown e Ali se conhecem, timidamente se cumprimentam e conversam rapidamente.


Tudo estava preparado para o show, com alguns problemas, mas dentro do esperado. Quando vem a notícia de que a luta não poderia acontecer no dia marcado, pois Ali havia se machucado. Cogitaram adiar o festival, mas tudo estava preparado e não havia tempo hábil para adiamento. Assim, deram continuidade para que os shows acontecessem como programados.

A parte documental acaba aqui, a partir daí, é só imagem dos shows, mostra pelo menos uma música, de praticamente, todos os artistas que se apresentaram naqueles dias. Meu destaque vai para James Brown, é claro, e B.B. King, dois monstros da música mundial. Mas ainda há algumas apresentações de grupos que eu não conhecia, além dos artistas africanos, com grande destaque para Miriam Makeba, que apesar das músicas não me agradarem, tem uma crítica mundialmente positiva.


As pouquíssimas imagens dos shows são o ponto fraco do filme. É mostrada praticamente uma música de cada artista, James Brown tem apenas duas, e mais uma nos extras. Sei que a intenção do filme não é mostrar os shows, mas poderiam ter colocamos mais músicas, ou pelo menos lançado outro blu-ray com todas as músicas.

Ainda assim, o documentário é um registro importantíssimo para os adoradores da boa música. É um histórico dos acontecimentos da época, e nos diz como os artistas foram importantes para o fim do racismo.
Com certeza é indispensável para quem é fã da black music.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Para Roma com Amor (To Rome with Love) - 2012

13/02/2013 - 9
Nota: 7.0 / 6.4 (IMDB)
Formato: HD

Direção: Woody Allen
Elenco: Woody Allen, Alec Baldwin, Jesse Eisenberg, Alison Pill, Robert Benigni, Judy Davis, Alessandra Mastronardi, Ellen Page, Greta Gerwig, Penélope Cruz, Flavio Parenti, Fabio Armiliato, Alessandro Tiberi, Riccardo Scamarcio, Antonio Albanese, Ornella Muti

Crítica:
Woody Allen vem escolhendo as locações de seus filmes em cidades turísticas e românticas, mostrando suas belezas como pano de fundo. Esse se passa em Roma, uma cidade maravilhosa, com ruas rústicas, grandes praças, muito movimento e turismo. Como sempre, a base de seus filmes é bastante diálogo, mas dessa vez, além de fazer comédia com as falas, fez também com as inúmeras coincidências absurdas, que são as partes mais engraçadas.

Allen conseguiu fazer um bom filme, e mostra mais uma vez, que não preciso tecnologia para fazê-los. Interessante ver que ele construiu quatro enredos sem ligações em um filme só, até usou um pouco de ficção em uma das histórias, mostrando como é muito versátil, pois os temas são bem diferentes, e isso não é simples. Está longe de ser seu melhor filme, outros são melhores como Vicky Cristina Barcelona - 2008 e Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris) - 2011, mas esse é um ótimo filme, que vale a pena assistir.

[SPOILERS...] No filme acompanhamos quatro histórias distintas acontecendo na cidade, contadas simultaneamente e intercaladas. Primeiro conhecemos Hayley (Alison Pill), uma jovem turista que conhece o nativo advogado Michelangelo (Flavio Parenti), e começam um romance. Logos seus pais, Jerry e Phyllis (Woody Allen e Judy Davis), vêm à Roma para conhecer o novo namorado e sua família. No encontro entre as famílias, Jerry escuta Giancarlo (Fabio Armiliato), pai de Michelangelo, cantando ópera no chuveiro, e percebe seu potencial musical, convence-o de fazer um teste profissional, mas descobre que seu talento acontece apenas ao tomar banho. Entre vários diálogos engraçados, Giancarlo vira um grande tenor, mas sempre cantando no chuveiro.


Em outra história acompanhamos o arquiteto Jack (Alec Baldwin), que ao revisitar o bairro onde morou quando estudante, encontra John (Jesse Eisenberg), um rapaz que mora exatamente em sua ex-casa. John o convida para rever a casa e tomar um café, os dois e sua namorada Sally (Greta Gerwig). Entre os bate-papos, Sally conta que sua amiga Monica (Ellen Page) está chegando e passará alguns dias hospedada na casa eles. John não vê problemas, mas Jack o aconselha não recebê-la, pois as descrições ditas por Sally poderiam colocar em risco o namoro dos dois. Monica chega e logo John percebe que Jack estava certo e os dois acabam tendo um caso. Mas o interessante da história é que aos poucos vamos percebendo que Jack é John no futuro, e ele está apenas revisitando seu passado.


A terceira história conta a vida de Leopoldo (Robert Benigni), um homem tradicional, que não faz mais do que seguir sua rotina diária. Quando de repente ele se torna uma celebridade. Todos o idolatram, querem saber de sua vida, é convidado para festas, com se fosse uma pessoa famosa há anos. No início ele acha estranho, mas aos poucos vai gostando de ser o centro das atenções, até que começa a se aproveitar disso. Quando de repente, ele não é mais a celebridade, sua fama acaba, ninguém mais o reconhece, assim Leopoldo fica transtornado, exigindo e perguntando às pessoas e informando quem ele é. Mas a fama realmente acabou.


Na última história encontramos um jovem casal, recém-chegado à Roma. Eles serão recepcionados pelos tios tradicional do rapaz  (Alessandro Tiberi), assim, ao chegarem ao hotel, sua esposa (Alessandra Mastronardi) decide sair para ir ao salão. É quando começam as coincidências embaraçosas. O rapaz recebe no quarto do hotel uma prostituta Anna (Penelope Cruz), que o confundi com outro cliente, no mesmo momento seus tios chegam e ele é obrigado afirma que Anna é sua esposa. A procura do salão, a moça se vê perdida nas ruas de Roma, quando encontra um ator, que é fã, ele a seduz e a leva para seu hotel. Tudo indicava que os dois iriam parar na cama, mas é quando um assaltante entra no quarto, e com um fim bizarro, ela acaba por ir pra cama com o assaltante.

As atuações são bem caricatas, cada um dos atores principais das histórias assumiu um papel bem marcante. Alguns deles com destaque maior, e posso começar citando Penelope Cruz, como sempre linda, mas fazendo uma prostituta despojada ficou ainda mais sexy, por isso, não foi tão exigida, sua beleza natural faz a personagem. Atores como Jesse Eisenberg e Robert Benigni sempre marcam, por terem o mesmo jeito de atuar, Eisenberg com falas rápidas e Benigni com seu gesticular de mãos. Também dou um destaque para Allen, apesar de sua aparência não ser agradável, ele sempre tem um bom desempenho.

No papel de roterista, Woody Allen tocou em alguns temas interessantes e outros polêmicos. Um deles é a traição, o jovem casal, em situações diferentes acaba um traindo o outro, e isso faz com que o relacionamento fique melhor e apimentado. Outro tema é o experiente arquiteto revisitando seu passado, tentando mudá-lo e reconhecendo que alguns fatos todos têm que experimentar, para assim, saber se é ruim ou bom. Não adianta ninguém falar, temos que vivenciar. Durante a vida temos fatos divisores que nos faz dar certo ou errado, seja no trabalho, nos estudos ou com algum dom que nem sabemos que temos. E muitas vezes um “empurrãozinho” de alguém, pode ser essencial para que a coisa aconteça da forma certa. Acompanhamos isso na história de Jerry e Giancarlo. Se qualquer um de nos procurar nas nossas lembranças, vamos perceber que pessoas iguais Jerry passaram por nossas vidas, e muitas vezes nem as percebemos. Já a história de Leopoldo fez-me lembrar de que a maioria de nós procura exatamente a rotina e a estabilidade para sua vida, e para mim, esse é dos motivos que o nosso país não vai pra frente. Não somos um povo proativo. Sei que existem as exceções, mas brasileiro é acomodado. Também houve a exposição à fama, que pode ser parecido com poder. Basta uma pessoa ter fama ou poder para mostrar quem ela realmente é. [FIM SPOILERS]

Essas foram as mensagens que tirei do filme, mas é claro que essas percepções tem haver com minhas experiências. Assistam ao filme para terem as suas.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Lincoln - 2012


30/01/2013 - 8
Nota: 8.0 / 7.9 (IMDB)
Formato: Cinema

Direção: Steven Spielberg
Elenco: Daniel Day Lewis (Presidente Abraham Lincoln), Sally Field (Primeira-Dama Mary Todd Lincoln), Tommy Lee Jones (Congressista Thaddeus Stevens), David Strathairn (Secretário de Estado William H. Seward), Joseph Gordon-Levitt (Robert Todd Lincoln), James Spader (William Bilbo), Hal Holbrook (Francis Preston Blair), John Hawkes (Coronel Robert Latham), Jackie Earle Haley (Vice-Presidente dos Estados Confederados da América Alexander H. Stephens), Lee Pace (Congressista Fernando Wood), Jared Harris (General Ulysses S. Grant)

Crítica:
Steven Spielberg está de volta na direção de mais um drama de grandes proporções, o mesmo estilo empregado no excelente Munique (Munich) - 2005 e no fraco Cavalo de Guerra (War Horse) – 2011. Agora, Spielberg, junto com o roteirista Tony Kushner, contam uma parte importante da história estadunidense, com participação importantíssima do então presidente Lincoln. Foi baseando na obra biográfica de Lincoln: Team of Rivals - The Political Genius of Abraham Lincoln de Doris Kearns Goodwin. Lincoln foi o 16º presidente dos Estados Unidos, é um dos mais lembrados, pelos seus feitos e por ter sido assassinado.

O enredo mostra exatamente os meses em que antecederam a aprovação da 13ª emenda da constituição estadunidense, os quatro últimos antes do assassinato do presidente. Durante a guerra civil, que não é o foco do filme, o presidente atrela o fim da guerra à assinatura da emenda, e faz de tudo para que as duas coisas aconteçam ao mesmo tempo.


Spielberg foi incrivelmente feliz ao contratar Daniel Day Lewis para o papel principal. Lewis é um ator excêntrico, mas esse adjetivo se volta totalmente para sua competência. Normalmente suas atuações são extremamente fiéis, e sua determinação para compor um personagem impressiona. Fiz algumas leituras sobre seu comportamento nos sets de filmagem, e ele se transforma, de maneira que vivencia o personagem 24 horas por dia, e não aceita que ninguém o chame por seu nome, atendendo somente pelo nome de quem interpreta, mesmo fora das filmagens. Por isso, Lewis é admirado e se tornou um ator competente, vencedor de vários prêmios, incluindo dois Oscars. Nesse filme teve, mais uma vez, uma atuação extraordinária, sua aparência ficou incrivelmente perfeita. A fotografia e jeito com a câmera o mostrava, quase sempre de perfil, o deixou idêntico a Lincoln. Além disso, ele adotou uma voz rouca, com diálogos pausados e pacientes, mostrando seu envelhecimento e cansaço pelos quatro anos vivenciando a guerra.

[SPOILERS...] Em meio à guerra, Lincoln precisa travar uma batalha política para assinatura da emenda que acabará com a escravidão. Mas seu receio, é que o fim da guerra e consequentemente junção dos estados confederados à união, causarem a desistência da sua aprovação, pois os confederados fazem bastante uso da mão de obra escrava. Assim, Lincoln precisa correr para convencer e juntar os votos a favor, antes que a guerra acabe, mas para isso precisou usar sua influência política e algumas manobras antiéticas para dobrar seus companheiros republicanos e principalmente seus adversários democratas. Os republicanos foram convencidos por meio de diálogos e imposição irredutível para aprovação da emenda. Depois disso, solicitou seus melhores assessores para procurar pessoalmente os democratas que não foram reeleitos, pois seria mais fácil convencê-los, já que não tinham mais um vínculo formal com o partido. Enquanto o tempo passava, Lincoln precisou administrar a ansiedade de todos pelo fim da guerra, e ainda fez alguns movimentos para que ela não acabasse. Perto do dia da votação, Lincoln ainda precisou buscar votos pessoalmente e convencer alguns democratas, com palavras e chantagens emocionais. Assim, a emenda é votada e aprovada numa sequência de cenas tensas e emocionante. Ao fim, o roteiro mostra as negociações para rendição dos confederados e ainda encontrou tempo para mostrar como foi o assassinato de Lincoln. [FIM SPOILERS]


Como relatado, o filme não se trata de uma biografia por completo, apenas mostra um momento importante da história estadunidense, com um olhar direto sobre Lincoln. Mas há omissões sobre alguns métodos adotados por ele para conseguir os votos necessários na aprovação da emenda. Sabe-se que ele torturou alguns adversários colaboradores dos confederados, prendeu alguns jornalistas e fechou redações.

Os trejeitos adotados por Daniel Day Lewis com certeza não são os mesmos de Lincoln, muito provavelmente foi sua visão e imaginação que trouxe esse desempenho bastante agradável, dando veracidade aos fatos. Essa interpretação fez com que o filme ficasse lento, com diálogos muito bem  executados, de um jeito que sempre nos deixa a pensar. A maquiagem e a fisionomia de Lewis ficaram impressionantes, junto com o jogo de câmera, algumas cenas podemos dizer que é Lincoln de verdade.

A história foi muito bem contada, mesmo com as omissões, o roteiro nos prende, mesmo não tendo ação alguma, prestamos atenção em cada diálogo, em cada frase. Por isso, incrivelmente, a plateia do cinema em que o assisti, ficou em silêncio absoluto durante as quase duas horas e meia de projeção. Numa havia acontecido isso comigo. O cinema é do Shopping Boulevard em Belo Horizonte. Fica a indicação.


Desabafo:
É incrível como alguns de nós, muitas vezes eu, dá tanta importância à história dos EUA e para piorar, não valoriza a história brasileira. Critico-me várias vezes por não assistir à filmes latinos, europeus, e principalmente nacionais. Sei que ao focar em filmes estadunidenses, estou perdendo a oportunidade de valorizar o que é nosso, e a nossa história, mas ao mesmo tempo é difícil deixar de assistir um filme igual Lincoln, para assistir Dois Filhos de Francisco - 2005. Os EUA estão longe de ser um povo perfeito, cometem inúmeros erros por conta do capitalismo, inclusive no cinema, mas esse, é o que eles fazem com perfeição, independente da história que contam, eles conseguem fazer com que o planeta assista a seus filmes. Por bem ou por mal, e infelizmente, eu ainda prefiro arriscar assistir um filme deles e achar ruim, do que assistir um nosso para ver se é bom.

Assistam Lincoln!