quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe) - 2011

19/02/2014
Nota: 7.5 / 6.7 (IMDB)
Formato: HD

Direção: William Friedkin
Roteiro: Tracy Letts
Elenco: Matthew McConaughey (Police Detective "Killer" Joe Cooper), Emile Hirsch (Chris Smith, son), Juno Temple (Dottie Smith, daughter), Gina Gershon (Sharla Smith, stepmother), Thomas Haden Church (Ansel Smith, father), Marc Macaulay (Digger Soames, gang boss), Julia Adams (Adele Rogers, natural mother), Sean O'Hara (Rex, boyfriend of Adele)

Crítica:
Recentemente fui apresentado a dois álbuns de um novo cantor blues: LetThem Talk (2011) e Didn't It Rain (2013). Escutando suas versões para vários clássicos do blues, percebi que havia influência de todas as partes. Pra começar, logicamente, há bastante jazz, em algumas, country. Seu tom de voz vai de Howllin' Wolf à Eric Clapton. Canções com som atual, sem perder o blues tradicional, com o piano dando um toque especial, fazendo-me lembrar de Pinetop Perkins. Até tango percebemos em mais de uma música. Isso mostra, mais uma vez, que Jimmy Page, John Paul Jones, Robert Plant e John Bonham estavam cobertos de razão, não é preciso inventar, basta buscar o que já existe, tirar o que é melhor, fazer uns ajustes e transformar em algo muito melhor, buscando a perfeição.

Apesar de apenas dois álbuns, esse cantor é muito famoso, mas não pela música, e sim, pela TV. Nunca imaginei que veria Dr. House (ao vivo) tocando piano e cantando blues. Isso aí, Hugh Laurie é quem estou descrevendo, o médico doidão da série americana House M.D., no Brasil conhecida por Dr. House. Vale a pena conferir.

Essa introdução poderia estar na crítica de algum outro filme, talvez a analogia que vou fazer não tenha nada a ver, mas como estou curtindo Hugh Laurie agora, achei melhor comentar logo. A analogia está nessa forma que Laurie utilizou para realizar seus dois álbuns, com várias influências, parecendo até que estudou a fundo alguns dos artistas que citei. Isso vai de encontro com a forma utilizada por William Friedkin para dirigir Killer Joe - Matador de Aluguel.


Friedkin é um experiente cineasta, dirigiu vários clássicos, dentre eles Operação França (The French Connection) - 1971 e O Exorcista (The Exorcist) - 1973, mas nesse filme, provavelmente algumas ideias saíram com base em estilos de direção de outros diretores, e até mesmo na forma de atuar de alguns atores, e a reviravolta do roteiro, podemos ver em outros filmes específicos. Nada de cópia, mas como disse acima, procurou melhorar o que tem de bom nos outros filmes, e em algumas cenas chegou bem próximo.

[SPOILERS...] Killer Joe - Matador de Aluguel narra a história dos Smith, uma família completamente desestruturada que reside em Dallas. Chris mora com a mãe, é um aspirante a traficante, e deve os mafiosos da região. Ameaçado, tem a brilhante ideia de contratar um assassino para matar sua mãe, pois descobriu que ela tem uma apólice de segura no valor de 50 mil dólares e deixou como beneficiária sua irmã Dottie, em caso de morte. Para isso, vai atrás de seu pai, Ansel. Um cara alienando que mora num trailer com a namorada Sharla e a filha Dottie.

Chris convence Ansel a contratar Joe Cooper, um policial matador de aluguel para dar um jeito em sua mãe. Mas as coisas começam a dar errado quando Chris percebe que não tem dinheiro suficiente para pagar Joe, tenta convencê-lo de receber depois, mas Joe recusa refazendo a proposta. Ele fará o serviço desde que a virgindade de sua irmã sirva como calção. Os dois topam.
Chris se arrepende tardiamente, ao procurar Joe, sua mãe já está morta na porta malas do carro. A partir desse momento começam as reviravoltas. Ao procurarem a seguradora, descobrem que Dottie não é a beneficiária, e sim Rex, o namorada da mãe.


Sem o dinheiro para pagar Joe, Chris resolve fugir levando sua irmã, mas chegando em casa encontra Joe e sua família preparando o jantar. E essas cenas, momentos antes, e depois que Chris entra no trailer, é que valem o filme. Tenso e paranóico! [FIM SPOILERS]

Se me falassem que essa cena final foi escrita por Quentin Tarantino eu não duvidaria. Esse desfecho final, com certeza, é parecidíssimo com uma cena em Cães de Aluguel (Reservoir Dogs) - 1992 e outra em Bastardos Inglórios (InglouriousBasterds) - 2009. Além disso, o filme inteiro é bem estruturado em seus diálogos, muito semelhante aos filmes de Tarantino.

O roteiro tem certa relação com a trilogia de Guy Ritchie: Jogos,Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels) - 1998, Snatch - Porcos e Diamantes (Snatch) - 2000 e Rock’n'Rolla - A Grande Roubada (Rock’n'Rolla) - 2008. Ritchie trabalha muito com a idiotice humana, coincidências absurdas e resultados inesperados. Tudo isso puxando sempre um lado cômico. Se olharmos superficialmente, poderemos ver todas essas características nesse Killer Joe - Matador de Aluguel, mas o lado cômico é bem mais sutil, observando mais o humor negro.

O elenco fechou o ciclo que faz filmes entrarem num patamar acima da expectativa: roteiro, direção e atuações excelentes. Todos tiveram atuações acima da média, mas o grande destaque vai para Matthew McConaughey que soube demonstrar a evolução do seu personagem. No início um assassino comum, frio, que faz tudo só pelo dinheiro, mas aos poucos mostra seu lado psicopata, dando a entender que sente prazer em matar, humilhar e desmoralizar as pessoas. Fez-me lembrar da atuação do Christian Bale em Psicopata Americano (AmericanPsycho) - 2000. Outra atuação bem semelhante foi a do Brad Pitt em Kalifornia - Uma Viagem ao Inferno (Kalifornia) - 1993. Matthew McConaughey está entrando na galeria dos grandes atores, seus próximos filmes poderão confirmar isso.

Killer Joe conseguiu buscar o que há de melhor em filmes do gênero, pra quem gosta, vale a pena ver.


sábado, 22 de fevereiro de 2014

O Mestre (The Master) - 2012

16/02/2014
Nota: 7.0 / 7.1 (IMDB)
Formato: HD

Diretor: Paul Thomas Anderson
RoteiroPaul Thomas Anderson
Elenco: Joaquin Phoenix (Freddie Quell), Philip Seymour Hoffman (Lancaster Dodd), Amy Adams (Peggy Dodd), Ambyr Childers (Elizabeth Dodd, filha de Lancaster), Jesse Plemons (Val Dodd, filho de Lancaster), Rami Malek (Clark, genro de Lancaster Dodd), Laura Dern (Helen Sullivan), Madisen Beaty (Doris Solstad), Lena Endre (Sra. Solstad), Kevin J. O'Connor (Bill William), Amy Ferguson (Martha a Vendedora), Joshua Close (Wayne Gregory), Patty McCormack (Mildred Drummond), Fiona Dourif (Dançarina), David Warshofsky (Policial da Filadélfia), Steven Wiig (Seguidor na Filadélfia), W. Earl Brown (Empresário)


Crítica:
O Mestre é um drama que busca criticar uma parte da sociedade que se refugia em religiões, seitas ou grupos em busca de explicações para os grandes mistérios da humanidade: de onde viemos, pra onde vamos; os porquês da nossa existência. Exatamente onde a ciência para e não consegue nos dar mais respostas, entram as igrejas se apegam e muitas vezes abusam da fragilidade da mente humana. Essa fragilidade, nesse caso, é criticada pela falta de assistência dada aos ex-combatentes de guerra, tanto nas duas grandes guerras, e ainda hoje, pois voltam extremamente debilitados psicologicamente, e muitas vezes tornam-se fardo e ficam à mercê da sociedade.

[SPOILERS...] O filme narra a história de Freddie Quellm, um veterano da II Guerra Mundial, alcoólatra, que está perdido numa sociedade pós-guerra, sem amparo algum. Passa por vários empregos, como fotógrafo ou fazendo serviços de colheita de repolho, mas seus problemas com o álcool sempre o atrapalham. Até que em dos momentos de embriagues, ele se vê abordo de um iate, onde conhece Lancaster Dodd. Dodd é o mestre de uma seita religiosa conhecida como "A Causa", que busca solucionar problemas físicos ou psicológicos das pessoas através de hipnose, fazendo-as revisitarem suas vidas passadas.


Agora Freddie é parte integrante da seita, e passa ter a confiança de Dodd, tornando-se uma cobaia para Dodd, que o faz passar por todo o processo de "cura". Além da hipnose, são feitas perguntas direcionadas sobre sua vida, de momentos psicologicamente estressantes para Freddie. Também são feitos exercícios rotineiros, semelhantes às torturas psicológicas. Mas Freddie, sem acreditar, e um pouco cético, não vê evolução, e seu comportamento não melhora em nada. Continua bebendo e extremamente nervoso nas situações de estresse. Isso faz com que os principais integrantes da família de Dodd comecem a duvidar da cura de Freddie, todos com receito do seu comportamento. Mas Dodd diz que se ele não está curado, a falha é deles, e é mais um motivo para continuarem tentando.

Freddie acaba se afastando para procurar uma antiga namorada, principal motivo de seus problemas psicológicos, mas Dodd o encontra novamente, chamando-o para voltar para A Causa, que agora se encontra na Inglaterra, à procura de novos fieis. Freddie resolve encontrá-los, mas logo no primeiro contato, é confrontado sobre suas razões para voltar, exigindo-lhe que deveria partir de si mesmo a vontade de ser tratado novamente, e acreditar fielmente no processo. A cena seguinte mostra Freddie transando, e brincando com sua parceira com os métodos utilizados em seu processo, não deixando de forma clara a sua escolha. [FIM SPOILERS]


O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por Phoenix, Melhor Ator Coadjuvante por Hoffman  e de Melhor Atriz Coadjuvante por Adams. As três indicações foram merecidas, mas Joaquin Phoenix fez um trabalho de extremo realismo. Fisicamente muito magro, aparência acabado pelo álcool, sua interpretação de um cara psicologicamente perturbado, por sua experiência na guerra é de uma perfeição inacreditável. A época também foi muito bem retratada, tanto pelos figurinos, quanto pelas locações.

O roteiro que é um pouco difícil em certos momentos, ele não explicita ao espectador quanyo tempo se passou, ou como as decisões dos personagens afetam todos, apenas toma aquilo com verdade e segue a história. No fim percebemos que o foco do roteiro não é o personagem principal, pois não há uma final para ele, na verdade, os dramas das situções que se passam são o personagem principal.

Lendo algumas curiosidades sobre o filme, descobri que parte dos argumentos utilizados para A Causa foram baseados na Cientologia, criada por L. Ron Hubbard na década de 50, que juntava um conjunto de crenças e práticas para formar um sistema de auto-ajuda. Por curiosidade, é a religião que Tom Cruise segue. De qualquer maneira, a crítica vale para todas as igrejas, que se utilizam da fraqueza psicológica das pessoas para realizarem uma lavagem cerebral de forma que passem a acreditar naquilo com verdade absoluta, sem dar chances para questionamentos. Fazendo as pessoas acreditarem em coisas consideradas absurdas para o senso comum. Dessa forma, na maioria das vezes, aproveitam para exigir de seus fiéis, quase que obrigatoriamente, a contribuição de bastante dinheiro.


Toda igreja tem uma função social importantíssima, pois elas acabam por orientar as pessoas para o bem, mas para isso, cobram caro, e metem descaradamente. Muitas tiram dinheiro de quem não tem, deixa de comer para comprar seu pedacinho no céu.

A outra crítica é o despreparo de países como os EUA, que até hoje mandam seus jovens para guerras, mas quando voltam, não tem uma política satisfatória para sua reintegração à sociedade, e muitos acabam com doenças depressivas pelo resto da vida.

É claramente um filme crítico, gostaria de ver uma opinião de Tom Cruise sobre ele. Todos os evangélicos e religiosos deveriam assisti-lo.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

42 - A História de uma Lenda (42) - 2013


28/01/2014
Nota: 8.0 / 7.6 (IMDB)
Formato: HD

Direção: Brian Helgeland
Roteiro: Brian Helgeland
Elenco: Chadwick Boseman (Jackie Robinson), Harrison Ford (Branch Rickey), Christopher Meloni (Leo Durocher), John C. McGinley (Red Barber), Lucas Black (Pee Wee Reese), Alan Tudyk (Ben Chapman), Andre Holland (Wendell Smith), Nicole Beharie (Rachel Robinson), CJ Nitkowski (Dutch Leonard), Brett Cullen (Clay Hopper), Ryan Merriman (Dixie Walker), TR Knight (Harold Parrott), Hamish Linklater (Ralph Branca), Brad Beyer (Kirby Higbe), Jesse Luken (Eddie Stanky), Max Gail (Burt Shotton), Peter MacKenzie (Happy Chandler), Linc Hand (Fritz Ostermueller)

Crítica:
42 é o filme biográfico do primeiro jogador afro americano a fazer parte de um time profissional da liga estadunidense de beisebol (MLB - Major League Baseball). Jackie Robinson é considerado um dos maiores jogadores de beisebol, e um ícone do esporte norte-americano. Destacou-se nas temporadas de 1947 a 1956 jogando pelo Brooklyn Dodgers.

[SPOILERS] O filme começa nos contextualizando da época em que os eventos aconteceram. Estamos no ano de 1945, soldados voltam para casa após o fim da segunda grande guerra, e é a partir desse momento que o beisebol volta a ter maior importância. A segregação racial nos EUA ainda estava no auge, os negros tinham que sentar-se no fundo dos ônibus, os hotéis eram separados pela cor da pele, todos os lugares tinha ambientes separados para os negros, restaurantes, praças e banheiros.


A MLB tinha aproximadamente 400 jogadores, logicamente, todos brancos. O então diretor do Brooklyn Dodgers, Branch Rickey, tinha grande experiência no beisebol, com vários títulos em seu currículo. Rickey precisa montar um grande time para as próximas temporadas, e sabia que nas Negro Leagues (Ligas de beisebol onde jogavam apenas negros) existiam grandes talentos, jogadores negros bons ou melhores que os brancos. Além disso, colocando negros em seu time, aumentaria a audiência dos jogos e consequentemente a arrecadação.

Rickey precisava achar o jogador ideal, com personalidade forte o bastante para aguentar as humilhações que sofreria dos adversários, torcedores, e até, dos seus companheiros de equipe. É aí que entra Jackie Robinson. Robinson tinha todas essas características, precisava apenas de ajuda para controlar possíveis reações agressivas.

Rickey colocou Robinson no time de base de Montreal, Canadá. Era um primeiro teste para todos, ver o comportamento dos brancos e de Robinson. Robinson era muito talentoso, logo se destacou como excelente jogador, além de mostrar que poderia conseguir suportar todos os preconceitos. Assim, na temporada seguinte, Robinson é incorporado ao time principal, assinando um contrato para ganhar 600 dólares por mês, pelo Brooklyn Dodgers.


Sua estréia foi no dia 15 de Abril de 1947 com a camisa de número 42. Nesse dia se tornou o primeiro jogador negro a atuar num time da MLB (Major League Baseball). Um marco para história do esporte mundial.

Mas para que esse dia fosse lembrado como hoje é, Jackie precisou passar pelas mais humilhantes situações. Em todos os jogos, torcedores, adversários ou não, gritavam humilhações todas as vezes que entrava em campo. Robinson respondia com grandes atuações, e em vários jogos, era o principal responsável pela vitória dos Dodgers. A pior situação foi em um jogo contra o Philadelphia Phillies, em que o treinador adversário,  Ben Chapman, xingava Robinson explicitamente, humilhando-o e tirando sua concentração. Ainda assim, Robinson conteve-se, sem nenhuma atitude agressiva. Posteriormente, Ben Chapman foi obrigado a tirar uma foto ao lado de Robinson, como pedido de desculpas. Depois desse episódio, Chapman nunca mais conseguiu destaque no mundo do beisebol.

A história do filme foca na temporada de 1947, e termina com Robinson mostrando a todos que ele estava muito acima dos preconceitos, que era um grande homem, e excelente jogador de beisebol. [FIM SPOILERS]

Robinson defendeu o Brooklyn Dodgers por 10 temporadas e foi campeão da World Series em 1955. Ainda enquanto jogava, outros jogadores negros entraram para a liga.

Robinson recebeu várias homenagens. Em 1962 entrou para no Hall da Fama do Beisebol. Em 1997 a MLB aposentou o número 42 de todas as equipes da liga. Em 2004 foi instituído o "Jackie Robinson Day", que acontece em 15 de abril, onde todos os jogadores de todas equipes, jogam com o número 42. Essa homenagem vai de encontra aos dizeres de um de seus colegas: "Quem sabe amanhã todos usemos o 42, para que ninguém mais consiga nos diferenciar".


Essas homenagens são de extrema importância para marcar as pessoas que sofreram e lutaram contra o racismo. Jackie Robinson deu sua contribuição para acabar com a segregação contra os negros, e é por ele e por vários outras, que um negro conseguiu chegar à presidência dos EUA.

Tecnicamente o filme deixa a desejar, tanto nos diálogos, quanto na direção. As atuações, em vários momentos, pareceu-me teatral, com textos bem decorados, sem improvisações, utilizando frases de efeito, totalmente clichê. Brian Helgeland poderia ter conduzido os atores com mais liberdade, numa biografia isso ajuda a dar mais naturalidade aos personagens. Fora isso, Chadwick Boseman fez uma boa interpretação de Jackie Robinson. Conseguimos perceber, claramente, o sofrimento que era ser um negro naquela época. Incrível foi a transformação de Harrison Ford, que está irreconhecível como Branch Rickey. Maquiagem perfeita. Percebi que era ele pela voz e pelo jeito de mexer com os braços, apesar dos diálogos clichês, sua atuação foi excelente. A retratação que Alan Tudyk deu para Ben Chapman foi importante, principalmente nas cenas do jogo contra o Phillies. Faz-nos ter ódio dele.

A história procurou, descaradamente, vangloriar Jackie Robinson, sem mostrar seus defeitos e apenas um pouco de suas fraquezas. Por isso, os clichês ficam mais evidenciados. Provavelmente foi proposital, pois, como disse, essas pessoas devem ser lembradas pelos seus grandes feitos, para que discriminações e preconceitos nunca mais aconteça na humanidade.


A retratação da época, figurino, locações, deu credibilidade ao realismo da história. O visual em sépia valoriza a imagem que temos dos anos 40.

Considero um excelente filme, até para rever, pois é uma história verídica de uma época que normalmente não temos a noção do que foi sofrimento dos negros. É importante ver o que o ser humano é capaz de fazer com um semelhante, para nunca mais repetirmos esse erro, pois quem erra duas vezes é burro.

E essa é a principal mensagem que podemos tirar do filme, pois podemos estar vivenciando esse erro atualmente, de forma menos exagerada, mas com os mesmos preconceitos. Hoje os gays são discriminados, em determinados locais e regiões, explicitamente, em outras, com silêncio.

Temos (tenho) que abrir nossas cabeças e entender que esse tipo de situação não cabe mais nos tempos em que vivemos. Somos todos iguais.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Questão de Tempo (About Time) - 2013


13/01/2014
Nota: 9.0 / 7.9 (IMDB)
Formato: HD

Direção: Richard Curtis
Roteiro: Richard Curtis
Elenco: Domhnall Gleeson (Tim Lake), Rachel McAdams (Mary), Bill Nighy (James Lake, Tim's father), Lydia Wilson (Kit Kat, Tim's sister), Lindsay Duncan (Mary Lake, Tim's mother), Tom Hollander (Harry), Vanessa Kirby (Joanna), Margot Robbie (Charlotte), Tom Hughes (Jimmy), Catherine Steadman (Tina), Matt Butcher (Courtroom Observer), Lisa Eichhorn (Mary's Mum), Richard Cordery (Uncle Desmond), Will Merrick (Jay), Joshua McGuire (Rory), Jon Boden and Sam Sweeney (Buskers), Richard Griffiths (Sir Tom), Richard E. Grant (Actor), Matthew C Martino (Commuter)

Crítica:
Depois de Simplesmente Amor (Love Actually) - 2003, Richard Curtis ganhou créditos infinitos comigo. Sua carreira começou com várias comédias-românticas bem acima do padrão estadunidense, mas ainda assim, com roteiros tradicionais para o gênero: homem ou mulher que vive uma vida ruim, quando acha o seu amor perfeito, vem os conflitos e brigas por vários motivos, logo depois, o arrependimento e o reatar, para no final, viverem felizes para sempre. Normalmente as comédias inglesas são infinitamente melhores que as hollywoodianas, mas eles precisam vender seus filmes, e muitas vezes caem na mesmice. Em Simplesmente Amor, Curtis, conseguiu sair desse padrão e criou um dos melhores filmes romance que assisti. Seis anos depois, mudando um pouco de gênero, fez o excelente Piratas do Rock (The Boat That Rocked) - 2009, ganhou mais uns bons créditos, e agora, esse sensacional Questão de Tempo. Importante dizer que seus melhores filmes, são, justamente, os que dirigiu. Coincidência ou não, é um diferencial. Hoje assisto qualquer filme que ele dirigir.

Além de Richard Curtis, o roteiro tem algo que chamou minha atenção: viagem no tempo. Qualquer filme que trabalhe bem o tema atrai meu olhar. Numa primeira impressão fez-me lembrar do Te Amarei Para Sempre (The Time Traveler's Wife) - 2009, que trata dos mesmos temas e gênero, mais dramático e menos romântico, mas igualmente excelente. E coincidentemente, com Rachel McAdams como protagonista feminina do casal.


[SPOILERS...] Questão de Tempo começa nos apresentando Tim, um jovem inglês, que em sua casa, participa da tradicional festa familiar de virada de ano junto com seus pais, sua irmã Kit Kat e o seu tio D, que parece sofrer de algum tipo de esquizofrenia. É então que o pai de Tim, James Lake, resolve lhe contar o segredo da família. Com simplicidade, ele informa-o que os homens da família têm a capacidade de viajar no tempo, mas com restrições, a viagem acontece apenas para o passado. Após duvidar e experimentar, Tim passa tentar resolver seus pequenos problemas pessoais, o principal deles: arrumar uma namorada.

Interessante como o roteiro faz distinção entre felicidade e ganância logo de início. Tim escuta o histórico familiar de seu pai, dizendo que vários tentaram ficar ricos, outros trapacearam e viveram na luxúria, mas nenhum deles foi feliz de verdade. O principal conselho era buscar de seus sonhos, e ser feliz ao conquistá-los.

Assim, Tim parte para Londres. Vai estudar na faculdade de direito e morar com Harry, um produtor de teatro amigo do seu pai. Lá conhece Mary, numa das melhores cenas do filme. Ele e um amigo vão a um bar de encontros anônimos, ou algo do gênero. O bar recebe as pessoas num lugar escuro, sem visibilidade nenhuma, um atendente os encaminha para uma mesa onde estão duas mulheres, ali a conversa se desenrola. O mais interessante é que a tela para os espectadores também fica preta, e acompanhamos os diálogos super concentrados. O sentimento romântico é explorado ao máximo, somente ao sair os dois se conhecem visualmente. Tim apaixona instantaneamente por Mary.

Chegando a casa encontra Harry arrasado, a estréia de sua peça foi um fracasso, pois o ator principal esqueceu as falas. Nesse momento é que Tim passa a entender melhor os riscos que é viajar e alterar o passado. Para ajudar Harry, ele volta momentos antes da peça começar e sugere ao ator revisar suas falas, tudo funciona bem e a peça é um sucesso, mas como a peça e seu encontro com Mary aconteceram no mesmo momento, Mary não o conhece mais.

Agora Tim precisará encontrar Mary e conquistá-la novamente. As sequências até conquistá-la novamente é algo excepcional, romântico, cômico e verdadeiro. Muito bem desenvolvido. Algo diferente do que costumamos ver no cinema. E são essas cenas que os protagonistas mostram como atuações perfeitas fazem o filme ser diferenciado.  Domhnall Gleeson, que interpreta Tim, começa o filme razoável, parecendo ser uma interpretação adolescente demais para o personagem. Mas vemos que não, a insistência de Tim, com criatividade, para conquistar Mary, revela um grande ator. Percebemos em seus olhos e suas expressões, o quão está apaixonado. Rachel McAdams, só confirma a grande a atriz que é. O seu pouco caso com um cara qualquer que tenta conquistá-la, até o momento em que se entrega à conquista, apenas por algumas palavras sobre Kate Moss, é de uma veracidade apaixonante. Atuação impecável.


Com os dois juntos, acompanhamos mais uma cena sensacional que acontece dentro da estão do metrô. Para demonstrar o amadurecimento dos dois como casal, vemos a rotina diária deles, pegando o metrô para trabalhar, indo para festas, com mudanças de roupas para nos contextualizar da estação do ano. Tudo isso acompanhado pela música How Long Will I Love You, da banda escocesa, The Waterboys, executada por: Jon Boden, Sam Sweeney e Ben Coleman, como se fossem de uma banda que toca nas estações de metrô.
No casamento, entre idas e vindas ao passado, Tim e seu Pai proporcionam uma emocionante sequências, na escolha de quem fará o discurso e seu pai procurando o discurso perfeito para o momento.

Agora acompanhamos a vida do casal, que é bem semelhante a de qualquer outro. Passando pelos mesmos problemas e dificuldades. Até que os filhos vem, e começamos a perceber que Tim está conseguindo ser feliz, sem precisar utilizar seus "poderes" para fins gananciosos. E a principal mensagem do filme começa a ser passada. A parte mais dramática acontece quando ele descobre mais uma regra da viagem no tempo. Sua irmã problemática acaba sofrendo um acidente de carro quase fatal, assim, Tim volta ao passado para mudar os fatos que culminaram no acidente. Quando volta e entra em casa, sua filha não existe mais, se transformou num filho. Imediatamente vai questionar seu pai, que lhe explica as regras: o nascimento de filhos é um marco na viagem no tempo, pois todas as vezes que voltar para antes do seu nascimento, um filho diferente vai ter. Assim, Tim desiste de evitar o acidente da irmã, passa a apoiá-la na recuperação, física e psicológica.

Interessante que as regras para viagem no tempo são simples e diretas, sem precisar de maiores explicações. O porquê não é necessário, é assim porque é.


Partimos para o terceiro ato. Lake pai está bastante doente e confidencia a Tim uma última dica, um jeito de viver seus dias com mais prazer e tranquilidade, basta vivê-lo duas vezes. Uma vez naturalmente, e outra, voltando no início do dia, sem alterar nada, vivenciar os acontecimentos já sabendo o que irá acontecer, apenas sentindo o quão prazeroso é a vida, mesmo em momentos tristes. Seu pai vem a falecer, mas Tim não sente tanto, pois ainda tem suas viagens para matar saudades. Mary acaba engravidando pela terceira vez, isso implica que Tim não poderá mais ver seu pai. E após nove meses faz uma última viagem para despedir-se.

Ao fim, a crítica do filme à nossa sociedade, vem nas palavras de Tim, ao perceber que não era preciso mais viver os dias duas vezes, bastava sempre vivê-lo com se fosse a segunda vez. E essa é a principal mensagem do filme: "Carpe diem". [FIM SPOILERS]

Bill Nighy, que faz o pai de Tim, tem uma participação discreta, mas todas as vezes que aparece mostra sua força como ator. Desenvolve um pai com perfil exemplar, aquele pai que todos desejam, participativo, amigo e presente em todos os momentos.

Destaque também para trilha sonora, que faz cada cena ser mais impactante, e sem dúvida vale escutá-la.

Curtis acertou mais uma vez, faz um tema complicado, ser simples, uma história emocionante do início ao fim. É um filme que agradará a todos, pois são lições que gostaríamos de trazer para nossas vidas. Assistirei novamente com certeza.